PINTAR E BORDAR

  

"Você pinta e borda?”   Certo dia, alguém quis saber.

Pintar e bordar: Eis dois verbos. Eis duas ações que separadas, cada qual com suas peculiaridades, representam atividades ligadas ao universo das artes e da criação. Pintar faz alusão à representação por traços ou cores, ou ainda, ao ato de recobrir determinada superfície com tinta. Já bordar é a arte de fazer bordado, de ornar, de criar, de inventar, de formar diferentes figuras em um tecido, podendo ser feito a maquina ou a mão.

Quando utilizadas em conjunto, "pintar e bordar" nos remete a uma expressão popularmente conhecida. Expressões populares são tão comuns em nossa cultura que já fazem parte naturalmente do nosso cotidiano.  Muitas vezes, por ouvi-las repetidas vezes acabamos por absorvê-las sem maiores reflexões. 

Desta forma, se você conhece tal expressão, é bem possível que diante de alguma frase do tipo "Fulano pintou e bordou" você conclua que o fulano em questão era sujeito de alguma travessura, traquinagem, bagunça, ou ainda que estava "aprontando" ou extrapolando. Gosto de pensar no termo utilizando a ideia do último verbo em particular. 

Pintar e bordar, no sentido de extrapolar os limites pode ampliar possibilidades e remete a ideia de "ir além".  Para isso vale pintar, vale bordar, vale inventar e quem sabe vale até pintar e bordar? É só começar! Pontos retos, pontos de nós, pontos cruzados ou entrelaçados, e eis que temos as estruturas básicas do bordado. Bordar é criar. Pintar é para além de colorir, é ousar.  

Pintar e bordar é ressignificar!

Gosto de pintar. Aprecio a arte de bordar, pela sua minúcia, sensibilidade e detalhes. Ah, os detalhes! Se por um lado, tanto pintar quanto bordar possam parecer atividades calmas e sutis, por outro, trazem em si a natureza própria da transformação.

Quanto à questão inicial, a propósito, costumo pincelar e colorir. 
Pinto vidros e potes, cabelos e unhas. Misturo cores. Mexo com tintas e elas mexem comigo. Faço arte. Rascunho e rabisco. Me arrisco! Pinto o sete. Pinto aqui e acolá, quiçá isto não seja pintar e bordar?



Rosiane Nunes